Aceitação

Aceitar uma gravidez inesperada é muito complicado. Não sejamos hipócritas de falar que de primeira pensamos que é tudo uma bênção. De primeira entrei em desespero, não sabia o que pensar nem como agir nem pra onde correr. Parece que seu mundo cai e que todos os seus sonhos são despedaçados em pedacinhos tão pequenos que talvez nem você tenha força de juntá-los de novo. Pensei em tudo que eu estava vivendo, meu emprego, minha vontade de crescer profissionalmente, a faculdade que eu tanto queria fazer, o curso que eu estava fazendo pra melhorar meu currículum, os amigos que eu teria que deixar de lado pra cuidar de uma criança. E como cuidar de uma vida se eu nem conseguia cuidar da minha direito? Foi desesperador. Na hora em que eu confirmei minha gravidez tive vontade de gritar, de socar tudo que via pela frente, questionei a existência de Deus e perguntei diversas vezes porque ele estava fazendo isso comigo se eu nunca fiz nada de mal pra ninguém? Porque ele me "abençoou" com um filho nessa idade? Logo eu? Sai da ultrasom com minha mãe arrasada. Ela olhando pra baixo sem saber o que dizer, e eu completamente descontrolada e certa de apenas uma coisa: Não tenho a mínima condição de criar uma vida se sou uma "irresponsável". Colocar uma vida no mundo nessas condições é uma maldade. Eu estava decidida a abortar. Conversei com meu namorado, que é praticamente meu marido, então vou chamar de marido. E ele foi completamente contra, disse que cansou de ler depoimentos de mulheres que se arrependem muito depois, e que em muitos casos o casal acaba se separando pois o homem toma nojo da parceira.. é como se um aborto quebrasse o sonho de um casal, então pra que ficar junto ainda? Sei lá, muito confuso, só sei que ele foi contra, e preferia terminar comigo a aceitar esse tipo de coisa, primeiro porque faria mal a mim uma operação açougueira dessas, e segundo porque isso não se faz, a criança não tem nada a ver com isso. Mas nessas horas o meu desespero era tanto que eu nem estava ligando pra nada, nem culpando ninguém além de deus. E a minha vida? Vai parar porque ele quer que pare? Porque é a vida da mulher que para, não a do homem. Eu fui sempre tão independente, tão doida, vou ficar presa agora, com 20 anos na cara? Impossível. Na volta pra casa, minha mãe foi tentando contornar a situação, disse que me apoiava independente da situação, mas que queria me esclarecer algumas coisas. Ela disse que ter filho não tem só partes ruins.. na hora parece um monstro de 7 cabeças e sem solução, mas que um filho é maravilhoso, alegra a vida das pessoas. Dá trabalho? Claro que dá, e muito.. é gente, é uma vida completamente dependente da gente. Mas porque eu não daria conta? Sou mulher como qualquer outra, e toda mulher tem instinto de guerreira, de mãe, então nada seria impossível. Ela tentou me mostrar que é maravilhoso acompanhar os passos do neném, ver o crescimento, cada sorriso, cada dentinho que cresce, cada choro, cada tombo, tudo é lindo e maravilhoso e sem preço. Ela disse que essas coisas acontecem porque tem que acontecer, e não é na nossa hora e sim na hora de Deus, precisamos respeitar, é como se estivéssemos tirando a vontade dele. Mas e a minha vontade? Ele me perguntou pra saber os meus planos? É muito chato ouvir essas coisas quando na sua cabeça parece que ninguém entende o que eu estava sentindo, a dor, a raiva, tudo tão intenso que não dá nem pra explicar. E pra tentar me convencer, disse que ter filho "cedo" é muito melhor, tanto para a recuperação do corpo, quanto para a criação do bebê.. imagina quando eu tiver com 35 anos? Meu filho terá 15 e eu vou estar nova ainda pra poder brincar, fazer festas e etc. E ao mesmo tempo que eu escutava minha mãe, no fundo parecia que ficava o som do batimento do neném pra apertar mais ainda meu coração. Fui aceitando a idéia muito devagar, ficava pensando nas roupinhas, nessas coisas legais pra poder tentar me animar.. Mas só conseguia pensar em criar uma menininha, uma mini-Karina sabe? Tudo pra mim era menininha, pensava já até na festinha de 1 ano, nos vestidinhos, em ficar penteado o cabelo dela o dia inteiro.. Até que quando eu aceitei tudo, duas bombas. Primeira: Era menino. NÃOOOOOOOO! Meu mundo caiu, Deus só pode estar de sacanagem com a minha cara.. qual é a dele comigo cara? Eu já não posso optar por querer engravidar, e agora nem o sexo eu posso escolher? Tudo contra a minha vontade? Fiquei muito desanimada, custeeei pra entender que neném é neném, não importa o sexo, vai ser amado do mesmo jeito. O que mais me deixava triste era sair pra comprar alguma coisa para o bebê e ver um vestidinho bonitinho, uma sandalinha.. Nossa, pra quê? Chorava, ficava triste.. Pensava que agora mesmo é que não vou ter o filho comigo, só vai querer o pai o tempo todo, afinal programa de homem é um saco: Futebol, Maracanã, Beber e Mulher. Mas sabe que depois foi legal? Comecei a ver cada roupinha tão linda.. e percebi que as roupinhas das meninas são sempre iguais, vestidinhos, sainhas, o que muda é a estampa que ficam mais fofas.. Mas e as roupinhas dos meninos quando se sabe vestir? Ahhh é a coisa mais linda, as blusinhas polo, os tênizinhos, as bermudinhas, macacãozinhos.. Tipo os filhos da Angélica e do Luciano Huck sabe? Não quero meu filho igual um surfista desorientado e comum como todos os outros bebês, que vestem bermudas floridas e blusinhas de desenho, do Carro ou do Ben10! Que tédio. Comecei a me animar de novo, e então.. Segunda bomba: Meu marido é transferido pra Niterói! QUE SACOOOOOO! Nasci em Niterói, cresci lá, e eu odeio niterói. Pensei logo no bafafá que seria quando eu voltasse, e grávida. "Olhaaa, a Karina está gravidaaa, OOOOh!!!" ou então "Coitaada, tão nova e vai ser mãe" E eu ficava envergonhada de sair na rua, pensando "que raiva, todo mundo está comentando".. Mas.. Comentando o que e porque? Coitada é a criança que engravida com 15 anos e mal consegue curtir a adolescência. Coitada é o pobre sem teto que engravida e não tem nem como sustentar o filho. Vão ter pena de mim porque? Se tenho quase 21 anos na cara, sou casada, moro com meu marido, tenho amigos e uma família que me apoia. Então eu sou feliz, e posso sim ter um filho. Ser mãe é difícil pra todo mundo, dificuldade todo mundo passa, mas na hora que chega o bebê se arranja dinheiro de onde não se tem pra não faltar nada.. Se os pobres conseguem, porque eu não vou conseguir? Que bobagem! Liguei o "foda-se" pra tudo e pra todos e assumi feliz da vida minha gravidez com meu marido. E quer saber? Sou a mãe mais feliz do mundo.. porque aproveitei tudo que tinha que aproveitar na época certa, e ainda vou aproveitar muito, porque um bebê não pára a vida de uma mulher, adia, e com certeza eu vou olhar tudo com outros olhos depois que arcar com essa responsabilidade. Acho que é o melhor amadurecimento e a maior felicidade pra uma pessoa.. ter um filho! =)

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1 recadinhos...:

ariane disse...

Tenho certeza de que, apesar de tudo isso que aconteceu na sua vida, voce será a maior e melhor mãe do mundo. Não preciso dizer que voce é meu orgulho né? Então tá! To morrendo de saudades! :*~

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